terça-feira, 8 de maio de 2012

O Uso Racional de Medicamentos e a luta por uma sociedade mais justa

 


O Uso Racional de Medicamentos e a luta por uma sociedade mais justa


Brasil, 5 de Maio de 2012

Vivemos em uma sociedade doente. Uma sociedade onde ter é melhor do que ser, onde o eu é maior que o nós, onde as relações humanas são limitadas a interesses comerciais, onde o desenvolvimento é guiado pelo lucro, onde poucos têm muito e muitos têm quase nada.

A saúde, que deve ser entendida como produto direto dessas relações sociais e produtivas que caracterizam nossa sociedade, não foge e nem deveria fugir a essas regras. Dentro do capitalismo, saúde é um mercado lucrativo, nos somos consumidores desse produto extremamente desejado e por isso, reproduzimos a crença de que saúde é consequência apenas de processos fisiológicos e que é um bem de consumo que pode ser comprado através de exames, consultas, procedimentos, estilo de vida, e obviamente, medicamentos. Esse consumismo, essa sede por novas tecnologias, por produtos mais modernos tem suas consequências. Essa cultura, faz de fato bem a saúde?

Para a saúde da população, obviamente não. O acesso a medicamentos no mundo continua reduzido e desigual, milhões de pessoas morrem de doenças para as quais já existem tratamentos a décadas enquanto outros tantos são medicados sem a real necessidade para tal, os gastos governamentais e individuais com medicamentos não param de subir, e muitas vezes sem avanços reais na qualidade de vida da população.

Mas, para a saúde do capital, certamente sim. Os medicamentos cumprem exatamente o papel que um bom produto deve cumprir. A indústria farmacêutica, que supera a indústria bélica e só perde para a indústria petrolífera em lucratividade, mantém sua marcante capacidade de “inovar” e “empreender” – não se busca mais medicamentos para doenças, mas sim o contrário; os gastos com marketing superam de longe os gastos com pesquisas; pouquíssimos medicamentos lançados no mercado representam avanços terapêuticos, mas sim avanços nos lucros; não há interesse em se desenvolver tratamentos para doenças negligenciadas, já que pobre não pode pagar; pesquisas clínicas são manipuladas e adulteradas para garantir o próximo milagre na forma de comprimido.

O mesmo vale para as farmácias comerciais. Com lucros cada vez maiores, inclusive subsidiados de forma vergonhosa pelo próprio Estado, o numero de farmácias em nosso país supera de longe as recomendações internacionais. Além disso, se encontram totalmente dissociadas da atenção básica, do SUS, e dos princípios da universalidade, integralidade e gratuidade. Em tempos em que abominamos corretamente a venda de medicamentos em supermercados, mal percebemos que as farmácias são o próprio supermercado.

É possível então se falar em Uso Racional de Medicamentos?


A resposta é sim e não. NÃO se considerarmos que essa questão se restringe a ética dos profissionais prescritores e dispensadores, ou a ma formação que esses recebem. Que se restringe ao acesso a medicamentos e informações por parte do paciente. Que se restringe a questões regulatórias do Estado, ou a estratégias gerenciais adotadas. Isso tudo é de fato importante, mas não atacam a essência já exposta de todo o problema. Poderemos SIM falar em uso racional de medicamentos quando começarmos a repensar o modelo de farmácia que temos, a produção e desenvolvimento de medicamentos que temos, quando pararmos de tentar conciliar o inconciliável, de conciliar o interesse publico com o interesse privado. Poderemos falar em URM quando não mais despolitizarmos o tema, quando assumirmos que essa é mais uma consequência da sociedade doente que entende a saúde como mercadoria, que medicaliza a vida. O medicamento não é apenas um objeto de consumo e uma forma de lucro, mas sim um instrumento de saúde e consequentemente um direito social necessário para a dignidade da vida humana.

Por isso, nesse dia 5 de Maio, que historicamente representa o dia nacional de luta dos estudantes de Farmácia, a Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia (ENEFAR) convoca todos a pensarem sobre o uso irracional de medicamentos de uma maneira mais ampla, como um produto de uma sociedade injusta e desigual, e principalmente convoca todos a enfrentarem conosco as reais causas disso tudo.

Coordenação Nacional da ENEFAR

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